Artigos em FOCO

Na inauguração deste espaço novo no nosso blog trazemos um texto de um filho da nossa cidade para abrilhantar nossos olhos, Aldo Gomes, filho do Sr. Antonio Gomes de Melo que é uma figura ilustre da nossa cidade. apreciem a Leitura


O fascínio de escrever
*Aldo Gomes

A princípio me sobreveio grande força como se emanada de um psicológico fluente e crescente, mas de forma discreta, seguida por leve receio de versar sobre o tema, receio dissimulado que me sugere não admiti-lo por motivo de orgulho pessoal insinuante de que seria eu pensador irretocável, hábil, perfeito, cujo produto escrito é pronto, acabado, em que não cabe melhoria. Essa pretensão se desfaz, no entanto, no instante do meu reconhecimento de que para este aventureiro das letras escrever é um prazer tanto maior quanto maior o desafio de expressar os sentimentos, segundo a natureza da sua complexidade. Anima, estimula, mas refreia, reluta. Produz no campo da subjetividade fluxos e refluxos, idas e vindas no desenrolar da mente, enfim, como se fosse uma formulação química em que as substâncias colocadas juntas agem e reagem, “brigam entre si”, enfrentam-se, mas no final se ajustam, definindo-se por um produto de grande imprescindibilidade.
Creio, na minha possível ignorância, que os escritores famosos ou até os minimamente conhecidos não viveriam sem escrever ou não viveriam bem e sim subnutridos nessa área, não pelo vértice financeiro, mas pela necessidade interior do escritor de sentir que está ligado, entendido, sabido, compartilhado em seus pensamentos que nem sempre são bem claros para ele mesmo, pois alguém mais capacitado, mais sensível, quem sabe um gênio, um sábio (sem acepção de gênero, obviamente), logre sorte de que seus pretensos recados sejam decifrados e disseminados como algo interessante, confortável e construtivo. Escrever sugere a conquista de espaços comuns para firmar o sentido de fazer parte, em alguma fração de segundos, do cotidiano congênere. Na extensão desse ponto de vista é sequencial perceber que a postagem gráfica, certamente não por si só, é aquilo que ela pode gerar na apuração final da reflexão, desde fáceis compreensões até a identificação de sensações pré-requisitos para ações que levem a fatos e situações transformadoras individuais ou coletivas, extensivas e construtivistas.
Em uma variável mais acurada podemos dizer ou supor que escrever é ter alguma rara espécie de poder que muitos poderiam ter, mas poucos tentam: o poder de ousar a comunicação, ousar infiltrar-se pacificamente, no melhor dos sentidos, no pensamento, no imaginário e no senso comum daqueles que embora sejam nossos semelhantes, são, cada qual, um mundo próprio, diferente. Aliás, escrever implica reduzir as diferenças por meio da identificação e fortalecimento de visões ou maneiras de pensar, gostos, conceituações, que não só podem ser melhor vividas, digeridas, globalizadas, como podem alcançar efeitos práticos, frutíferos, no aperfeiçoamento da convivência humana, para torna-la saudável.
Neste ponto da presente reflexão somos instados talvez a causar leve desconforto na coordenação do entendimento do que discorremos, mas prefiro correr o risco ao arriscar o patente, ao dizer que “escrever não faz milagres”, mas pode ajudar no sentido da cura de males de ordem

existencial, que levam pessoas à redução da autoestima com frequência considerável, com possibilidade de assim permanecer indefinidamente no tempo. Tal fato ocorre por sentir-se alguém deslocado socialmente e escrevendo tem esperança de encontrar ressonância mais além e o que é melhor, sem saber onde, nem quando, nem por parte de quem. Paradoxalmente são incertezas que trazem certo grau de positivismo e robustecem a fé.
Quem escreve e torna público seus escritos alimenta o desejo de ser lido e adicionado no campo da imaginação de alguém. Quem lê espera entender, adicionar, sentir-se próximo, enturmado, igual, no que depender ou se ligar às hordas da comunicação escrita. Esta, pela sua natureza peculiar expande limites geográficos, amplia conhecimentos, promove união entre pessoas e povos, aproxima o homem na habilidade do dimensionamento dos fatos e seu direcionamento para o bem comum.
Por todos os atributos da escrita e de escrever aqui enumerados e por outras dezenas que escaparam destes registros, as letras, palavras, termos e frases, combinados e bem coordenados, encerram poderes de alcançar o imponderável, daí a conveniência do empenho de todos na perseverança de carreá-los para o bom e salutar uso da escrita, pois no seu efeito indesejável temos visto na grande mídia casos em que a escrita gera desconforto, dissenções e outros desencontros. Como tudo no mundo tem os dois lados das considerações a escrita, idem, o tem, porém o lado bom predomina com larga vantagem, cabendo a todos nós, com a nossa atuação no espaço em que pudermos influir, aumentar esta margem, gradativamente.
É certo que na apreciação do texto sob nossos olhares tentamos com afinco trazer à tona, o mais que pudéssemos, a compreensão compartilhada da escrita e sua importância no processo da comunicação entre nós, habitantes da Terra. Não consegui muito, mas talvez haja despertado, instigado os leitores a entender porque é tão fascinante escrever.
Posso então fechar o raciocínio asseverando que escrevo pelo que falei e pelo que deixei de falar _ dando margem ao leitor a que formule suas conclusões _ escrevo pelo prazer, pela emoção, quando a decisão de escrever não tem volta, enfim, não há como explicar para convencer, seja o ato voluntário ou compulsivo ... sem economizar massa cinzenta, mas preservando-a para outras situações e desafios futuros. Assim, melhor dizer que...
É o fascínio de escrever.

*Secretário de Agricultura Pecuária e Pesca de Pedreiras
Pedreiras, janeiro de 2013

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